Durante boa parte da minha vida (21 anos, sou novinha ainda) não me considerei uma leitora assídua. Ainda que eu lesse mais do que meus amigos e colegas. Nem sempre gostei de ler. Uma das minhas tias gostava de ler livros para os sobrinhos, mas não foi ela quem me incentivou a criar esse hábito de leitura. O colégio que eu estudei por mais tempo, tinha um projeto chamado "viajando na leitura" (ou algo do gênero). Funcionava da seguinte forma, toda sala (do primeiro ano do ensino fundamental I até o nono ano do ensino fundamental II) tinha um armário onde vários livros ficavam guardados e todo mês, nós tínhamos que escolher um para ler e responder algumas questões em um livro feito pelo colégio. Isso servia para provar que o aluno tinha lido e para ver o quanto ele tinha entendido do livro e coisas do gênero. Tinha uns livros chatos e outros muito legais! Eu entrei nesse colégio com 10 anos e foi com essa idade que conheci uma série de livrinhos que contava a história de 3 amigos, cujo nome era a Turma dos Tigres. Provavelmente, se eu fosse pegar para ler hoje, eu ia achar bem bestinho, mas na época, era o máximo! Os três amigos solucionavam casos de mistérios e muitas vezes, os livrinhos eram interativos e você tentava desvendar o mistério junto deles. Meu sonho é que, talvez um dia, eu tenha toda a coleção desses livrinhos. Posso dizer que foi com essa turminha que começou a nascer meu interesse por literatura policial/mistério/suspense.
Outro caso que também ocorreu na minha infância e que, talvez, tenha sido no mesmo ano em que conheci a Turma dos Tigres, foi quando, em uma tarde entediante na casa da minha avó, eu fui dar uma olhada na estante de livros (cuja maioria eram dessa minha tia que gostava de ler) e achei um de capa dura, muito antigo, do Sir Arthur Conan Doyle. Não faço a menor ideia de qual o titulo do livro, só lembro de ter me deparado com o Watson descrevendo Sherlock Holmes sentado em uma poltrona fumando cachimbo. Do enredo em si, eu só lembro que me deu a impressão de ter muitos nomes de ruas, endereços, enfim. E eu gostei, vejam só. Amei a genialidade do Sherlock, mas não consegui concluir o livro. Ele desapareceu, na época eu era criança e demorava demais para ler, pois tinha coisas mais importantes a fazer, como; brincar. (brincar é extramemente importante no desenvolvimento infantil e sim, 10 anos ainda é criança).
Ainda aos 10 anos, tive a alegria de conhecer e ler, antes de todos os meus amigos, o primeiro livro da série Harry Potter. Nenhum dos meus amigos tinha sequer ouvido falar em Harry Potter quando eu comprei o primeiro livro, li e me apaixonei. Saí contando a todos os meus amigos o quão legal era, falei tão bem, que todos foram atrás de ler (e nenhum gostava de ler) e viciaram mais do que eu. Bem mais. Pois eu nunca passei da Pedra Filosofal. Comecei a ler A Câmara Secreta, mas a história ficou confusa demais na minha cabeça e eu desisti. Era informação demais e eu não conseguia captar.
(essa era a edição que eu tinha)
Retrocedendo um pouco, quando eu tinha 9 anos, ouvi falar pela primeira vez em uma garotinha chamada Anne Frank. A professora falou pouca coisa sobre ela na sala de aula, mas eu fiquei curiosa. Cheguei em casa e perguntei a minha mãe o que ela sabia sobre aquela garota, mas ela também não me disse muita coisa e eu queria saber mais! Pouco tempo depois, eu havia comprado o livro dela (Naquela época, foi muito difícil de encontrar) e começado a ler. Me avisaram que a leitura era pesada para a minha idade, mas li mesmo assim. Não cheguei a finalizar (embora tenha chegado perto), pois as pessoas tinham razão; não era leitura para uma menininha de 9 anos. Na época, eu era fã de Anne Frank e confesso que ainda me resta resquícios do fanatismo que eu sentia por ela, pois me sinto bem chata quando alguém fala sobre ela, como se a conhecesse melhor que eu, há mais tempo e fosse mais fã. Eu nutria um fascínio por aquela menina, que provavelmente nunca mais nutrirei por ninguém. Então, peço que evitem falar que amam o livro dela, que já leram ou que são fãs, pois isso mexe com a parte mais ciumenta e possessiva que há em mim.
Eu tinha 13 anos quando voltei a me encantar por um livro de novo. Morava em Portugal e precisava ler um livro para apresentar na sala com o intuito de fazer os meus colegas se interessarem por ele. Fui num sebo ou numa livrariazinha pequena, estreita e cheia de livros que ficava no centro da cidade onde eu morava. Nenhum livro me chamava a atenção, até que, quase desistindo, eu me deparo com um único exemplar cujo o título me salta os olhos: A profecia das pedras. Li a sinopse e amei. Até a capa eu achei linda. E se não me engano, em alguma parte do livro havia dizendo que a autora tinha 13 anos quando escreveu aquele pedaço de perfeição. Eu já estava encantada antes de lê-lo. Quando fui pagar, o carinha do caixa disse que era um bestseller. Até hoje eu não entendo como, pois nem lá em Portugal, nem aqui no Brasil, eu encontrei muitas pessoas que já o tenham lido. A grande maioria nunca nem ouviu falar. Mas o fato é que, o livro não me decepcionou em nada. Atualmente, se eu fosse relê-lo, provavelmente não ia achá-lo tão genial quanto na época, afinal, eu tinha 13 anos e ele foi escrito por uma menina de 13 anos, entendem o que eu quero dizer? O livro é excelente, perfeito, se você levar esses fatores em consideração. E foi graças a ele que eu comecei a procurar outros livros para ler, queria achar algo que se equiparasse a "A profecia das pedras", mas como eu sou muito exigente, eu acabei nunca achando. Até porque, o gênero fantasia nunca foi meu forte. Achei outros livros melhores, mais interessantes, mas que nunca conseguiram substituir aquelas horas de leitura prazerosa que tive.
Aos 14 anos, regressei ao Brasil e voltei a estudar em outra sede da escola onde eu havia estudado dos 10 aos 12 anos e que tinha o projeto "viajando na leitura" que citei no inicio do post, lembram? Ao final de cada ano, o colégio sorteava os livros para os alunos da sala. Um dos livros que eu ganhei, foi muito bom! Um dia faço resenha sobre ele, pois nessa parte do meu relato, não é sobre um livro especifico que me impulsionou a ler que pretendo divagar. É sobre uma pessoa, um professor que serviu de incentivo e por conta dele, descobri que realmente eu gostava de ler. Ele era professor de literatura e eu o conheci na (antiga) oitava série (nono ano atual). Uma criatura peculiar, eu diria. Calmo, sempre sorrindo e transmitindo uma paz incrível. Um belo dia descobrimos que ele quis ser padre quando novo, mas desistiu. Depois disso fui capaz de entender a paz que emanava dele. Bom, esse professor sempre falava de autores e livros de um jeito que eu nunca vi igual. A empolgação e o amor que ele tinha ao falar do mundo literário era tanta que, ao longo dos 3 anos que ele foi meu professor, eu li e me apaixonei por livros que jamais sonhei em ler ou gostar. Descobri que a literatura pode ser fascinante. Aprendi a tirar algo de bom até dos livros mais chatos.
Só não aprendi a gostar de Machado de Assis.
E só pra finalizar, não me julguem, mas foi com Gossip Girl (os livros, tá?) que eu comecei a me tornar compradora de livros assídua. 15 anos, essa era a idade que eu tinha quando comprei o terceiro livro (eu não sabia que era uma série, ok? E na época, não estava na moda criarem histórias que não acabavam nunca, posso dizer que era praticamente só Harry Potter que tinha várias continuações) e me apaixonei. Quando me toquei que não tinha começado a ler na ordem, tratei logo de comprar os dois primeiros e devorar as páginas com os olhos. Tenho todos em não tão bom estado assim, pois na época fiz minhas amigas viciarem e tinha que emprestar para todas. E eu sei que provavelmente muitos devem achá-lo a cara da futilidade, mas eu enxergo mais do que isso. Os livros mostram as pessoas em seus lados mais sórdidos e humanos. A futilidade é uma realidade de tantos! Sejamos realistas, a classe baixa é capaz de morar em casa de papelão, mas tem uma televisão boa, celular bom, etc etc. Não quero generalizar, mas dizer que não é assim que a realidade é com muitos, é hipocrisia. Não é um livro de mocinhas e vilões, o que pra mim, já o torna melhor do que muitos livros por ai. Os personagens são bem mais trabalhados do que muitos. Você é capaz de descrever a Blair, a Serena, o Nate, o Dan, a Venessa e para isso, terá de usar adjetivos bons e ruins. Pois os personagens são bem humanos e falhos. Acho que já deu pra entender que eu defendo Gossip Girl até a morte, né? Mas se você viu o seriado na televisão e acha que os livros seguem o mesmo estilo, você vai cair feio do cavalo. Não leia caso tenha visto o seriado primeiro. Os livros vão te decepcionar, certeza.
PS: Tirando as páginas que eu li na minha infância sobre Sherlock Holmes, nunca li nenhum livro sobre esse tão famoso personagem criado por Sir Arthur)